Memórias de uma época - V

20061111

Ócio contra o estresse ocupacional

O tempo livre significa viagem, cultura, erotismo, estética, repouso, esporte, ginástica, meditação e reflexão

O sociólogo do trabalho Domenico de Masi (2000), defende a necessidade do ócio, como condição para reduzir o estresse ocupacional, de ordem mental, e para que se produza idéias interessantes e criativas para o desenvolvimento da sociedade.

Segundo Masi (2000), o ócio criativo é a atividade mental que ocorre quando o indivíduo está fisicamente parado ou dormindo:
“Ociar não significa não pensar. Significa não pensar regras obrigatórias, não ser assediado pelo cronômetro, não obedecer aos percursos da racionalidade e todas aquelas coisas que Ford e Taylor tinham inventado para bitolar o trabalho executivo e torná-lo eficiente” (Masi, 2000)
Para o sociólogo, o ócio criativo obedece a regras próprias, sendo o alimento da ideação e a matéria-prima do cérebro, que se transforma em idéias. O autor, entretanto, faz distinção do ócio criativo e do ócio dissipador, este considerado alienante, depauperante, de que resulta o sentimento de vazio, de inutilidade, de tédio e de baixa auto-estima.




Uma recomendação de Masi (2000, p. 241), aos executivos das empresas [e a todos que igualmente sofrem os efeitos do estresse ocupacional], é que deveriam reorganizar suas próprias vidas, a começar da crença de que se é eterno e de que se pode adiar para a velhice o momento de estar com a família e os filhos. Deveriam cultivar a própria vida interior, em vez de ficar pensando só na carreira profissional ou no trabalho a ser executado. Terminado o trabalho diário, seja em que turno ou escala for, o trabalhador deveria ir para casa, sem fazer alarde de seu cansaço, e, lá, não se entregar à poltrona diante da televisão, alienado num mundo em crise e ameaçador.

O tempo livre significa viagem, cultura, erotismo, estética, repouso, esporte, ginástica, meditação e reflexão, e o bom uso desse tempo, envolve, antes de tudo, uma pesquisa de que coisas podemos fazer, sem gastar. Estes são os conselhos de Masi (2000), que, em outras palavras, dá sentido as coisas do cotidiano, pouco apreciadas pelas cultura hiper:
“[...] passear sozinhos ou com amigos, ir à praia, fazer amor com a pessoa amada, advinhar os pensamentos, os problemas e as paixões que estão por trás dos rostos dos transeuntes, admirar os quadros expostos em cada igreja, assistir a um festival na televisão [ou em vídeo], ler um livro, provocar uma discussão com o motorista do taxi, jogar conversa fora com os mendigos, admirar a sábia beleza de uma garrafa, de um ovo ou das carruagens antigas que ainda passam pelas ruas. Balançar numa rede (...) símbolo do trabalho criativo, perfeita antítese da linha de montagem (...) símbolo do trabalho alienado. (Masi, 2000)
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Fontes:
DE MASI, D. O ócio criativo. Entrevista a Maria Serena Palieri (trad. de Léa Manzi). Rio: Sextante, 2000. (-_-) Ilustração colhida em www.fundacaocultural.ba.gov.br/.../ritmos.htm



Nota:
Como se pode observar, no Brasil, no sentido corriqueiro, as palavras ócio e lazer aparecem como semelhantes. O termo tempo livre também está carregado dos mesmos sentidos, embora fique evidente, já nas primeiras aproximações, que os fenômenos lazer e ócio necessitam de um tempo liberado ou livre e resguardam relação com liberdade.

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